24/11/2013

Dante, o Maior dos Astrólogos, III, O Paraíso (Final)

(Saturno e Oitavo Céu)
original: The Planetary Heavens of Dante - Rays from the Rose Cross Fev-Apr, 1977(*) 
SATURNO
O sétimo céu é o de Saturno. Aqui São Bento mostra a Dante as belezas e delícias deste céu, como sendo de um  grande Mestre e Iniciador. Para aqueles que olham Saturno como um maléfico, pode parecer estranho que este planeta represente o sétimo céu, mas devemos lembrar que estamos lidando com a mais alta concepção dos planetas,quando eles se tornam céus, e "nenhum mal pode entrar lá". Sendo o céu da existência contemplativa, assim Dante descreve agora Beatriz:
Beatriz, sem sorrir-se, me dizia:
— “O sorriso contenho; de outra sorte,
Como Semele, em cinzas te veria.

“Minha beleza, viste já, mais forte
Refulge, quanto mais se eleva a escada,
Por onde ascende para a eterna corte.
Divina Comédia, Paraíso, Canto XXI
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource

Dante vê uma grande escada de ouro alongando--se diante de si. A escada de Saturno representa os aspectos mais intensos das experiências pelas quais o místico sobe. É por essas etapas progressivas como a concentração, a meditação, a observação, a discriminação, a aspiração, contemplação e adoração que o candidato sobe ao céu das estrelas fixas, isto é, uma concepção do todo. A essência do que é aprendido em um céu nunca é perdido. Os homens nos céus superiores compreendem aqueles que ainda estão na parte inferior, mas evidentemente o contrário não é verdadeiro. Não percebemos ou temos uma idéia precisa de como nos elevamos espiritualmente, assim como ninguém percebe o crescimento do seu corpo físico.

Beatriz, como a mãe, que ao filho caro
Súbito acorre ao vê-lo espavorido,
Com voz, que sói lhe ser terno anteparo,

“Ao céu” — disse — “não vês que foste erguido?
Ignoras tu que o céu em tudo é santo
E a caridade a tudo há presidido?
Divina Comédia, Paraíso, Canto XXII
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource

OITAVO CÈU (AS ESTRELAS FIXAS)
No oitavo céu é concedido a Dante um vislumbre do Cristo, o Caminho, o Ideal, a Força do Místico: "E neste banquete celestial minha alma superou-se''.

Aqui Dante encontra os santos Tiago, Pedro e João uma representação à sua passagem pelos testes da esperança, da fé e da caridade respectivamente. Dante aprendeu que, cultivando esses três fundamentos, o homem pode moldar sua alma no molde original arquetípico de um “Cristo”. Pela aquisição da esperança, Dante descobre que ele pode olhar com serenidade sobre as “grandes montanhas” e obstáculos que anteriormente tanto temia. Em Marte ele ouviu a voz para conquistar, agora ele se tornou um conquistador. Ele é informado de que sua missão ou trabalho é "revigorar os outros com a esperança." Sucessivamente Dante é “testado” por Pedro e João em sua fé e caridade. A tudo sendo aprovado.

No oitavo céu, ele contempla, como Dionísio, as nove ordens de Anjos, após o que, ele passa para o céu de luz ilimitada (Empireo). Aqui Dante vê uma luz fluindo em uma aparência como de um rio, ao que Beatriz chama de “o amarelo da Eterna Rosa”. Nele Dante vê a alma dos bem-aventurados, na forma de uma rosa branca. Ele tornou-se livre, e percebe que foi Beatriz que lhe o trouxe da escravidão para o estágio do homem livre. Mas quando iria expressar sua descoberta a Beatriz, esta já havia subido ao lugar dos bem-aventurados, e Dante, por sua vez encontra o seu terceiro e último guia, São Bernardo, que pede a ele para que olhe para a Virgem Maria – só assim ele entenderá Beatriz. Seu olhar à Virgem Maria representa o culminar do aspecto feminino da consciência.

Reza São Bernardo à Virgem para dar força Dante para que ele possa olhar o “esplendor eterno”, e Dante é então habilitado a olhar a luz intensa sem ser cegado. Assim, ele atingiu a consciência cósmica e, nesse estado, ele vê a unidade subjacente em todas as coisas:

Bem como abelhas, cujo enxame agora
Nas flores se apascenta, agora torna
À colmeia, onde os favos elabora,

Descia à flor imensa que se adorna
De folhas tantas, e depois subia
Ao centro, onde o amor seu sempre sojorna
.
Divina Comédia, Paraíso, Canto XXXI
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource

Sua última visão é a da Trindade na forma de três círculos girando, o que  nos lembra a visão de Ezequiel. Em uma das rodas Dante acha que vê a humanidade:

Mas, como, olhando, a vista se alentava,
A Imutável Essência parecia
Mudar, quando só eu me transformava.

Na substância profunda e clara eu via
Da excelsa Luz três círc’los dicernidos
Por cores três, de igual periferia,
... ...
Assim eu ante a nova visão pura
Ver anelara como a image’ humana
Ao círculo se adapta e ali perdura.
Divina Comédia, Paraíso, Canto XXXIII
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource

Esta é a última etapa da viagem - o clímax no qual o homem é arrebatado na visão da unidade do universo, onde é energizado por grandes forças cósmicas e vê de relance a fusão do humano com o divino. Dante nos diz que nesta sua última visão passou "do humano para divino, do tempo para a eternidade.''

Assim o maior de todos poemas termina com a palavra "estrelas", com todo o significado que esta palavra encerra, e mais, mostrando que Dante atingiu não só as estrelas, mas até mesmo "o Amor que move o Sol e todas as estrelas".
Nota: a tradução de Dante- Inferno e Purgatório foram feitas por Maria Carolina Carvalho para a revista Serviço Rosacruz. A tradução de Dante - O Paraíso feita por Maria Lázara Franzini não consta na revista citada.

Dante, O Maior dos Astrólogos, III - O Paraíso

(Sol, Marte e Júpiter)
original: The Planetary Heavens of Dante - Rays from the Rose Cross Fev-Apr, 1977(*) 
 
SOL
Agora, um novo influxo de vida desperta no  íntimo de Dante. É a vida que vem do “céu Sol” que e é simbólico de um novo poder. O Sol rege o Ego, a individualidade, a vontade, enquanto que a Lua governa a personalidade passageira através da qual o Ego se expressa. Dante sente agora que ele é de fato “o convidado do céu'', devido aos esforços de Beatriz. Então, como o amor de Deus “jorra através das suas elevadas emoções”, ele até se esquece de Beatriz, sua expressão-pessoal, como ele cita em seu poema:
“E em tanto enlevo o coração se acende,
Que a Beatriz olvida, fervoroso.”
Divina Comédia, Paraíso, Canto X 
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
Dante  agora é uno com o maior poder. Amor não é mais algo que satisfaça suas emoções ou sua mente. Ele sente-o como sendo a própria Vida.
No “Céu Sol” ele conhece Dionísio, o Areopagita, que falou sobre as nove ordens de Anjos e também encontra Richard de São Victor, que escreveu A Arca Mística, um tratado sobre a alma que está “plena de Deus”. É também aqui que o seu ex-professor (na terra), Tomás de Aquino, mostra-lhe mais claramente  que todas as coisas, se corruptível ou incorruptível, são baseadas em formas arquetípicas.
 
O alto espírito encerra, tão profundo,
Que se o Verbo de Deus é verdadeiro,
De saber tanto não se alçou segundo
.
Divina Comédia, Paraíso, Canto XI 
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
É muito semelhante ao que São Paulo chama "o padrão no monte." No entendimento celeste, primeiro reside o pensamento. Quando Deus fala, a criação começa.
Aquino também fala sobre a necessidade de tolerância, pois a tolerância é parte do amor que só o homem plenamente desperto espiritualmente pode apreciar. A tolerância deve ser baseada no amor, não na indiferença. Aquino diz:
 
“Quem no julgar as cousas se apressura
Imita aquele, que estimasse o trigo,
Quando a seara inda não stá madura.

“No inverno hei visto espinho dar castigo
Ao que imprudente as ramas lhe tocara;
Rosas depois oferecia amigo”..
Divina Comédia, Paraíso, Canto XIII
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
Nós não sabemos como trabalha o milagre da Vida. Como que o Espírito pode trabalhar, por exemplo  com uma árvore, aparentemente nua. Somente o Sol pode trazer a esta árvore, folhas, flores e frutos. Só sabemos trabalhar  com a forma.
 
MARTE
O quinto céu é o de Marte. Este é o reino da energia dinâmica e da coragem. É o paraíso dos mártires, dos que trabalham e lutam pela humanidade. O batismo do Espírito tem lugar no céu mas o trabalho é realizado em Marte. Aqui o rosto de Beatriz  assume uma bela tonalidade rosada:
Mas Beatriz tão bela e tão ridente
Rebrilhou, que a visão maravilhosa
Bem como outras, seguir não pode a mente
.

Aos olhos força deu tão poderosa,
Que se alçaram; e com ela transportado
Vi-me à esfera mais alta e luminosa.
Divina Comédia, Paraíso, Canto XIV
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
O símbolo de Marte é uma cruz sobre um círculo. Aqui Dante vê as formas dos “guerreiros celestiais” em forma de uma cruz. Ele ouve um hino de louvor sublime:
Pude esta vozes distinguir, atento:
“Bendito sejas, Deus, Um na Trindade,
Que à prole minha dás tão alto alento!

“Meu longo e caro anelo, na verdade
Dês que no grande livro hei ler podido,
Imutável na sua eternidade,
Divina Comédia, Paraíso, Canto XV
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
O propósito da viagem de Dante é a auto-libertação. Em Marte lhe é dado o poder de conquistar, mas mesmo neste estágio avançado do Caminho ele, vagamente percebe que o poder para esta libertação está dentro de si mesmo.
Neste céu de coragem Dante encontra um de seus antepassados, que prediz algumas das experiências duras e amargas que Dante vivenciará na Terra:
“Sentirás quanto amarga; quanto anseia
O sal de estranho pão; que é dura estrada
Subir, descer degraus da escada alheia.

“Tua angústia há de ser mais agravada,
Te acompanhar no val do exílio vendo
Ignóbil gente, estólida malvada
Divina Comédia, Paraíso, Canto XVII
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
Devemos lembrar que Dante fez conquistas no plano físico. Apesar de sua vida errante, exilado, ele escreveu os poemas mais doces e mais belos. que a humanidade já viu.Todos que estão no Caminho devem fazer uma canção das duras experiências da vida.
Há também neste céu, uma sutil referência aos centros sensoriais que começaram a dinamizar-se e a girar no corpo do candidato à Iniciação:
 
Mas quem reflete que os eternos selos
Vão da beleza no alto se apurando,
E aos olhos não voltava-me por vê-los,
Divina Comédia, Paraíso, Canto XIV
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
JÙPITER
Júpiter é o planeta da mente intuitiva e da inspiração e também da opulência. Por esta razão, neste céu é mostrado a Dante a vida de vários reis cristãos com as devidas consequências que tiveram do bom e mau uso que eles fizeram do seu conhecimento das leis cristãs. Agora o rosto de Beatriz agora assume um brilho extasiante.
 
Como a delícia eterna, rebrilhando
Direta em Beatriz, me extasiava
Do gesto seu por um reflexo brando,

Com riso, de que a luz me subjugava,
— “Volve-te, escuta ainda; o Paraíso
Não está só nos meus olhos” — me falava
Divina Comédia, Paraíso, Canto XVIII
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
 
O julgamento de Júpiter é temperado com misericórdia. É uma justiça baseada em princípios, e não em leis. No jupiteriano perfeito, não há condenação. Cada Espírito está em sua fase particular de crescimento para algum propósito. As fraquezas de cada um não são para serem condenadas mas  amorosamente auxiliadas. Dante descobre que através da justiça infinita cada Espírito inspirado pelo Amor Divino trilhará algum o caminho de volta para  o céu, sejam quais forem os obstáculos.
 
Penetra na justiça sempiterna
A vista concedida ao vosso mundo,
Bem como o olhar, que pelo mar se interna:

Se junto ao litoral lhe enxerga o fundo,
No pélago o não vê: certo é que existe,
Mas encoberto está por ser profundo.
Divina Comédia, Paraíso, Canto XIX
tradução de José Pedro Xavier Pinheiro - fonte Wikisource
 
Nota: a tradução de Dante- Inferno e Purgatório foram feitas por Maria Carolina Carvalho para a revista Serviço Rosacruz. A tradução de Dante - O Paraíso feita por Maria Lázara Franzini não consta na revista citada.